No início de setembro de 2020, quando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a entidade mudaria o nome do termo Open Banking para Open Finance, pouco se falou sobre o assunto.
Recentemente, em live realizada junto a uma empresa de private equity, mais uma vez Campos Neto reforçou a intenção do Banco Central em tornar mais abrangente o alcance do que seria o Open Banking até então, passando a ser chamado de Open Finance.
Mas o que é Open Finance? Entenda!
De acordo com o próprio presidente do BACEN, o Open Finance é uma transformação do sistema financeiro como um todo, baseado em um conceito de arquitetura aberta e integrada – indo além do escopo unicamente bancário que vinha sendo falado pelo setor.
“Nós entendemos que o Open Banking não é mais o que entendemos que o projeto deveria ser”, disse Roberto Campos Neto. “O que estava a caminho não era somente uma fusão somente de bancos com fintechs. O que está a caminho é uma fusão de mídia social com indústria financeira”, completou.
Para entender o tema em maior nível de detalhe, conversamos com Bruno Diniz, consultor financeiro e cofundador da Spiralem, empresa focada em consultorias sobre inovação no mercado financeiro. Ele é uma das referências sobre fintech no Brasil e autor de “O Fenômeno Fintech”, livro best-seller na categoria “Economia Internacional” da Amazon Brasil.
Open Banking e Open Finance: mercados diferentes
Na entrevista, Bruno Diniz explica que o Open Banking nasceu com a premissa de dar mais competitividade no mercado bancário, com a obrigatoriedade por parte dos bancos em abrir os dados financeiros mediante ordem dos clientes.
Por exemplo: Maria busca uma linha de crédito para pagar os estudos de sua filha. Durante toda sua vida financeira, Maria foi cliente do Banco X – porém, o Banco X tem taxas de juros maiores que o Banco Y.
Maria, então, busca pelo Banco Y para financiar os estudos de sua filha. O problema aqui é que o histórico de dados financeiros de Maria pertencem ao Banco X, tornando nossa personagem “refém” de sua história junto a essa Instituição.
Com o Open Banking, Maria é dona de seus dados e pode solicitar que o Banco X compartilhe as informações com o Banco Y – liberando, assim, o crédito que ela desejava com melhores condições.
A grosso modo, isso é open banking na prática – é claro, existem outras diversas nuances relacionadas ao tema. Mas para entendermos rapidamente, o exemplo de Maria basta.
Dessa forma, o Open Banking permite que outros modelos de negócio possam oferecer uma série de produtos e serviços, dando maior autonomia para que os consumidores usem os dados em benefício próprio.
Já quando pensamos em Open Finance, vamos além dos produtos bancários, abarcando uma série de outras ofertas que integram o sistema financeiro. O Open Finance propõe, como o nome sugere, a abertura de um sistema financeiro, permitindo que vários players do mercado possam oferecer produtos no segmento, de acordo com regras pré-estabelecidas.
Seguros, previdência, câmbio e investimentos, por exemplo, passam a integrar essa cesta de oportunidades.
Nesse sentido, o sistema de arquitetura aberta proposto pelo Open Finance não visa apenas permitir um fluxo de dados entre bancos e fintechs, mas inclui também corretoras, companhias de câmbio, fundos de previdência, entre outros, ampliando o escopo no uso de dados dos clientes, para que também possam ter mais independência ao contratar o serviço X ou Y.
Um bom exemplo é o Open Insurance, proposto pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) – que está construindo uma nova forma de operar o mercado de seguros no país com base nos mesmos preceitos.
Open Finance dá oportunidade para diferentes negócios no mercado financeiro
O movimento Open Finance vem evoluindo em diversas vias, mas nasce no mercado financeiro, abrindo portas para que outras indústrias possam atuar nele.
Para Diniz, empresas dos setores de energia, telefonia e saúde, por exemplo, poderão incorporar serviços e produtos financeiros, de uma forma que os consumidores possam ter mais opções de escolha, resultando em uma maior competitividade no mercado.
O Open Finance já estava na mira de outros países que adotaram o Open Banking, como é o caso do Reino Unido, cujo sistema de banco aberto está em vigor desde 2018. O sistema financeiro aberto seria o próximo estágio de evolução e implementação, previsto para acontecer em 2021.
No Brasil, a execução do Open Banking ocorre de forma obrigatória por parte dos grandes bancos e opcional por parte das fintechs. Porém, vai incorporar ideais previstos pelo Open Finance, contemplando outras empresas do ambiente financeiro.
“Isso se deve a uma proatividade do órgão regulador, o Banco Central, em acelerar o processo e priorizar a pauta, ampliando a competição financeira e facilitando o crédito para os consumidores”, afirma Diniz.
No Brasil, a competição ainda é um fator considerável, já que o mercado permanece concentrado em grandes bancos e tende a ampliar com a plena operação do sistema de arquitetura aberta.
De acordo com o especialista, os custos e barreiras de entrada e tecnologia estão caindo e se tornando mais acessíveis para que negócios de diferentes portes participem do mercado de forma equilibrada.
Consequentemente, a competitividade vai qualificar a oferta de produtos e serviços e diminuir taxas, tornando o acesso aos produtos e serviços financeiros mais democrático aos consumidores.
Profissional do mercado financeiro: como sair na frente no Open Finance?
Estar por dentro das tendências é um diferencial para profissionais de qualquer setor. No mercado financeiro não é diferente, especialmente no segmento bancário.
Com a chegada do Open Banking ou Open Finance, é hora de projetar possíveis caminhos para o futuro da profissão de bancário.
Um deles é o Personal Banker – uma forma de atuar como bancário autônomo no ambiente de inovação proporcionado pela transformação que estamos presenciando neste ano. Com a implementação completa do Open Banking, este modelo de atuação tende a crescer exponencialmente.
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